Sábado, 25 de Agosto de 2007

Top N - Atuações

Lendo alguns blogs por aí, fiquei com vontade de fazer uma lista. Como ainda não tenho atores ou atrizes suficientes para preencher uma lista para cada uma dessas categorias, decidi fazer uma lista de atuações que mais me marcaram. Vamos a elas, sem ordem de preferência.


Kevin Spacey - John Doe (Se7en) - O filme todo é uma maravilha. Até mesmo Brad Pitt atua bem (o que, na minha singela e humilde opinião, só acontece novamente em Clube da luta...), mas Spacey rouba a cena, dando ao monstruoso assassino serial uma expressão tranquila, serena e, no entanto, mostrando toda sua insanidade. Spacey compõe exatamente o extremo do mundo caótico, imoral e violento que Fincher mostra no filme. Minha fala preferida é aquela dita logo após John Doe receber uma bofetada de Somerset (Morgan Freeman) e o assassino se virar para Mills (Pitt): 'Oh... He didn't know...'. Genial.

Anthony Hopkins - Hannibal Lecter (O silêncio dos inocentes) - Assim como Spacey, Anthony Hopkins dá ao espectador uma atuação perfeita de um assassino. Culto e refinado, Hannibal Lecter é um personagem extremamente fascinante, cujo prestígio criou sequências no mínimo inferiores a O silêncio dos inocentes. Basta assistir ao filme e ouvir Hopkins dizendo 'Quid pro quo, Clarice' ou ainda vê-lo na cena da fuga para entender a genialidade da atuação.

Edward Norton - ? (Clube da luta) - Embora digam que o nome do personagem é Jack, eu vasculhei o filme inteiro em busca de uma fala que comprovasse isso e não achei (a parte que Norton diz que é um determinado orgão doente de Jack, para mim, é apenas uma leitura da revista, embora em outras cenas o personagem diga que é algum sentimento de Jack e não esteja lendo. Prefiro entender o personagem como alguém indefinido mesmo). Norton conseguiu ser para mim a personificação de esquizofrenia urbana, do sujeito que vive sob a pressão de ter que fingir ser alguém que nunca conseguirá e que acaba explodindo por isso, do consumismo, da inadequação no mundo. Não há nenhum momento mais memorável que outro. O filme inteiro é de Norton.

Nicole Kidman - Grace (Dogville) - Doçura, fragilidade, delicadeza para ocultar frieza, poder e ódio num experimento social. Depois de praticamente nos fazer odiá-la por sua passividade (algo que acontecia também com Björk em Dançando no escuro), Kidman se revolta contra a cidade e, no momento em que passamos a entender a personagem, há um misto de revolta e passividade do espectador em relação às atitudes de Grace. Quem não faria aquilo também, caso tivesse 'o poder'?

Leonardo DiCaprio - Billy Costigan (Os infiltrados) - Nunca havia gostado de Leonardo DiCaprio. Simplesmente não ia com sua cara, não gostei de sua atuação em Titanic e Prenda-me se for capaz (embora ache esse filme muito agradável), mas em Os infiltrados, DiCaprio me cativou. Mais que Jack Nicholson, Mark Wahlberg ou Matt Damon. A cena mais memorável é aquela que, durante uma sessão com a psiquiatra, há um corte e o ambiente é a casa de Billy, onde esse se angustia por ter acabado de presenciar uma morte e toma alguns (muitos) analgésicos. Fenomenal.

Johnny Depp - Edward (Edward mãos de tesoura) - Marcante. Mais do que Os goonies, Curtindo a vida adoidado, Lagoa azul, Querida, encolhi as crianças/estiquei o bebê e similares, essa obra-prima de Tim Burton foi o filme que mais assisti na Sessão da tarde. Tanto que hoje é um dos poucos filmes que estranho ao ver com legendas, já que cresci assitindo dublado. Depp está tão encantador, meigo e ingênuo que nos faz sentir a inadequação de Edward naquela vizinhança hipócrita. Comovente...

Ewan McGregor - Christian (Moulin Rouge!) - E dá pra não se apaixonar por Christian quando McGregor abre o sorriso luminoso? Tanto quanto em Peixe grande, Ewan é o ator perfeito para o papel. Nesse caso, por nos fazer crer que seria o tipo romântico perfeito, o único que poderia arrebatar o coração de uma cortesã.

Naomi Watts - Betty Elms/Diane Selwyn (Cidade dos sonhos) - Naomi Watts consegue construir duas personagens distintas e que, apesar disso, tem mais semelhanças que as aparências. Se é a perfeição enquanto Betty, é o amor obsessivo enquanto Diane.

Christian Bale - Alfred Borden (O grande truque) - Christian Bale fez maravilhas em Psicopata americano e Batman begins (os outros dois filmes com ele aos quais assisti), mas em O grande truque, Bale consegue ser obsessivo, humano, trágico, amargo. Ainda mais brilhante.

Haley Joel Osment - Cole Sear (O sexto sentido) - Revelação do filme. Dá um banho em Bruce Willis - que realmente atua nesse filme - e ilustra muito bem a dor, o desespero e a angústia do garotinho que vê gente morta.


Menção honrosa para: Johnny Depp (Willy Wonka - A fantástica fábrica de chocolates, Victor Van Dort - A noiva-cadáver [voz]), Jeremy Irons (Scar - O rei leão [voz]), Nicole Kidman (Satine - Moulin Rouge!), Ewan McGregor (Edward Bloom - Peixe grande), Brad Pitt (Tyler Durden - Clube da luta), Helena Bonham-Carter (Marla Singer - Clube da luta), Samuel L. Jackson (Elijah Price/Mr. Glass - Corpo fechado), Ellen Burstyn (Sara Goldfarb - Réquiem para um sonho), Hugh Jackman (Tomas/Tommy/Dr. Creo - Fonte da vida), Kate Winslet (Clementine Kruczynski - Brilho eterno de uma mente sem lembranças), John Cusack (Rob Gordon - Alta fidelidade), Glenn Close (Marquesa Isabelle de Merteuil - Ligações perigosas), Tilda Swinton (Gabriel - Constantine), Björk (Selma Jezkova- Dançando no escuro), Cillian Murphy (Dr. Crane/Espantalho - Batman begins), Jodie Foster (Clarice Starling - O silêncio dos inocentes), Julianne Moore (Laura Brown - As horas), Cate Blanchett (Katherine Hepburn - O aviador), Jennifer Connely (Kathy - Casa de areia e névoa), Ben Kingsley (Behrani - Casa de areia e névoa).

Quarta-feira, 22 de Agosto de 2007

Réquiem para um sonho

Direção: Darren Aronofsky

Talvez eu tenha feito o caminho inverso da maioria das pessoas que assistiram aos filmes de Aronofsky. Pelo que ouço falar, geralmente começa com Pi, gostam, passam por Réquiem para um sonho, amam e vão para Fonte da vida e aí temos uma vida radical: ou simplesmente se apaixonam de vez pelo diretor ou o amaldiçoam até dizer chega. Eu assisti Fonte da vida e fiquei embasbacado. Vi esse Réquiem para um sonho e... continuei embasbacado.

Contando com dois núcleos principais - a luta de Sara Goldfarb (Ellen Burstyn) para emagrecer e caber num determinado vestido vermelho, a fim de aparecer na televisão e a busca de Harry Goldfarb (filho de Sara), Marion Silver (Jennifer Connelly) e Tyrone C. Love (Marlon Wayans) para conseguirem dinheiro suficiente para financiar o vício e um estilo de vida invejável - Réquiem para um sonho assume a estrutura básica de uma tragédia. Mas depois eu falo sobre isso.

Sara Goldfarb é uma senhora solitária cujo maior passatempo é comer enquanto assiste televisão. Isso quando seu filho, Harry, não usa o penhora o aparelho para conseguir dinheiro para comprar heroína. Junto com Harry vivem Marion Silver, uma jovem cuja origem é mencionada apenas (filha de pais abastados, talvez se tornou uma viciada por causa do tédio) e Tyrone C. Love, que, ao contrário de Marion, vem de uma família bem mais pobre. O que une os quatro, além do parentesco de Sara e Harry, é o desejo de dias melhores. Enquanto os viciados esperam esses dias quando passam a vender drogas, Sara começa a ansiá-los ao receber uma saber que poderá aparecer num programa de televisão. Prontamente a senhora decide perder peso para entrar num vestido vermelho que usou na formatura do filho.

É incrível que Réquiem para um sonho é perfeito em praticamente todos os quesitos. Desde o elenco formidável, com destaque óbvio para Ellen Burstyn, que se torna para o espectador uma viciada em anfetamina, até a trilha sonora, inesquecível (aliás, pelo que disse um amigo, há uma faixa dessa trilha que foi remixada e utilizada em O senhor dos anéis. Quanto a esse fato não tenho certeza) e expressa o misto de agitação, melancolia e tragédia. A direção de arte reflete a decadência psicológica dos personagens com habilidade nos ambientes. A fotografia nunca realça as cores - embora não seja cinzenta - como que não houvesse sinal de alegria na vida dos personagens. A montagem é frenética, intensa (observação: existem dois momentos no filme que até agora me causam estranhamento. Num deles, enquanto a câmera se move pela casa de Sara, podemos ver que a casa é um cenário - notamos isso pelo teto. Em outro, durante uma conversa entre Sara e Harry, vemos a ponta do microfone. Como Aronofsky não fez nada disso em Fonte da vida, não creio que seja descuido do diretor. Uma professora minha citou o conceito de obra orgânica e não-orgânica e, pelo que ela disse, creio que se trata de um exemplo de obra não-orgânica).

Quanto à estrutura trágica de Réquiem para um sonho, digo que há essa estrutura num olhar não muito profundo (até porque não sei tanto de tragédia assim). O interessante é que a hybris dos personagens e a catarse provocada pela obra refletem um estilo de vida atual. A hybris, ou a atitude arrogante, seria a de simplesmente desejar dias melhores, desejar a felicidade, como se atualmente fosse uma atitude arrogante deseja uma vida melhor. A hamartia (erro trágico) seria, para alcançar esse futuro melhor (ou reviver um passado, caso de Sara Goldfarb. Seu vestido vermelho nada mais é do que a representação do passado no qual possuía o afeto do filho e do marido e não era tão solitária), se entregar ao meio mais simples e fácil - as drogas. A catastrofe (excesso que leva à catarse) seria a continuação do uso das drogas para atingir o objetivo, mesmo quando as coisas acabam não indo bem (Sara percebe que as anfetaminas estão mexendo consigo fisica e psicologicamente, Harry, Marion e Tyrone acabam perdendo a grande chance de conseguir droga da boa, da pura [seguindo gíria]). A catarse (reflexão provocada no público a partir da tragédia do(s) personagem(ns) seria que não se deve sonhar, pois os sonhos podem nos fazer tomar caminhos como os das drogas.

Por isso que não encaro Réquiem para um sonho como um filme sobre drogas. Acho que seria reduzir demais a obra, pensar assim. Mais do que uma obra com fundo moralista ('não use drogas, veja o que elas fazem com você'), Réquiem para um sonho é a exposição do sepultamento de um sonho por uma realidade opressiva na qual o futuro melhor não pode ser meramente desejado.

Memorável: Sequência final. Todos os personagens estão deitados. E acabam tomando a posição fetal.

Cotação: Réquiem para um sonho - *****

(Observação I: esse texto tem muitas referencias a Tragédia simplesmente porque estou fazendo um curso de Textos em teatro. Provavelmente meus comentários não serão tão, digamos, 'profundos' sobre outros filmes. E pode ser que eu tenha dito uma porção de besteiras aqui =D)

(Observação II: para todos os filmes que eu classificar com quatro e meia ou cinco estrelas, colocarei sua imagem memorável.)

Sábado, 18 de Agosto de 2007

Os Simpsons - o filme

Direção: David Silverman

Porque será que alguns filmes, quando provenientes de séries da televisão e são caracterizados como 'episódio esticado' acabam sendo ruins (A grande família, por exemplo) e outros, como este Os Simpsons, acabam se tornando um passatempo agradabilíssimo?

O longa da família de Springfield segue a linha da maioria dos episódios da TV: Homer é um grande idiota que não dá atenção para a família, faz uma burrada, quase coloca tudo a perder e percebe que é ama seus parentes e vai tentar salvá-los (seja de um perigo, seja da separação). No entanto, os próprios realizadores do filme se deram conta disso e colocaram, como primeira (e uma das melhores) piada os Simpsons num cinema com Homer reclamando de ter de ir ao cinema para assistir a uma animação que poderia ver de graça na TV. Homer se vira para a câmera e diz que nós somos burros por fazer isso. É impossível não rir, seja pela inteligência dos roteiristas ou pela nossa própria burrice mesmo, vá saber...

O filme em si não prima pela lógica (como os episódios televisivos) e isso é o máximo. Diversas piadas não têm nexo nenhum com a 'história' principal. Por outro lado, o filme é indicado apenas para os iniciados no seriado ou para pessoas que não ligam muito para um humor grosseiro (como acontecia, em escala maior, com South Park: maior, melhor e sem cortes).

A animação em si não é um destaque muito grande. Claro, é melhor que à original, mas, como dizia o trailer, o filme faz questão de ser sujo (com exceção dos animais silvestres à lá Disney...).

É um passatempo muito agradável. E, pessoalmente, só senti falta de mais atenção ao divertidíssimo Mr. Burns.

E, claro, não saia do cinema antes de ouvir a primeira palavra de Maggie

Cotação: Os Simpsons - O filme - ***½

(Observação: ainda não desisti de escrever um texto sobre Fonte da vida. O problema é que eu vi Réquiem para um sonho e pretendo estudar mais alguma coisa de tragédia para poder escrever sobre esse. Fonte da vida virá logo depois)

Quinta-feira, 2 de Agosto de 2007

Jacques Tati

Alguém que não a excelentíssima pessoa que me fez escrever o post abaixo pode me dar uma explicação geral de quem é Jacques Tati, que tipo de filmes ele fez (faz), etc.?

Comentário

Estou pasmo. Abissalmente pasmo.


Eu devo ser uma pessoa muito tola por ainda dar crédito pra um comentário desses, mas não deixa de ser uma pessoa que se deu ao trabalho de ler um comentário meu...

Óbvio que não vou conseguir responder com o mesmo número de citações ao comentário. Até porque em nenhum momento disse que faria do meu blog uma coisa intelectualizada, acadêmica. E, mais ainda, em nenhum momento digo que faço críticas, mas comentários. Não é questão de esquivar de um esforço para aprofundar os conhecimentos teóricos sobre cinema/filosofia/crítica, mas simplesmente um refúgio do academicismo imbecil do qual faço parte há apenas seis meses e, no entanto, já me sinto extremamente sufocado.

Vamos combinar que nem vou levar em conta as informações curriculares da pessoa. Internet é uma bênção em alguns aspectos, mas em outros consegue ser de uma burrice extrema (como provar que a pessoa que comentou é a que diz ser? As informações dadas pela pessoa podem ser conseguidas a partir de alguns cliques...). O que me incomodou (incomoda) foi a absoluta falta de noção do que eu proponho no meu blog, como se esse fosse uma página feita para realizar críticas profundas e não simplesmente um espaço no qual eu digo que vi um filme, porque gostei e o que acho que funciona. Como digo ali do lado, no "Quem faz o Filmes N", nunca fiz curso de cinema ou algo do gênero.

Talvez seja realmente uma pessoa preocupada com a minha evolução enquanto (caham...) 'crítico cinematográfico'. Talvez seja uma pessoa que simplesmente ache Transformers grande coisa e tenha resolvido salientar que, uma vez que não possuo os conhecimentos teóricos para realizar críticas, não posso dizer que o filme é ruim. Vá saber, não é mesmo? ;)

P.S.: Só uma questão: uma vez que não vi nenhuma observação positiva acerca dos meus comentários, o que o faz pensar que tenho futuro?

(Observações: que g-zooz me perdoe por dispensar um tempo da minha vida respondendo a tal pessoa; que esse comentário não seja uma resposta de uma certa pessoa com quem discuti; duvido que tal pessoa volte apenas daqui a um mês... Provavelmente virá antes para ver a reação que provocou na pessoinha aqui...)

Sexta-feira, 27 de Julho de 2007

Transformers

Direção: Michael Bay

Hoje fui ver o novo filme de Michael Bay. Dele só vi A ilha (e não guardo boas lembranças. Como Ewan McGregor e Scarlet Johansson aceitaram trabalhar naquilo? De uma idéia interessante o filme nos entrega apenas uma correria exagerada, com uma trilha sonora idem), então não posso dizer muito sobre o filme seguir seu estilo ou qualquer coisa do gênero. Isso posto, vamos ao filme.


Acontece uma guerra de proporções universais, o centro de uma grande cidade é destruído e o próprio filme, inúmeras vezes nos diz: 'isso é uma guerra'. Pois bem. Quantos corpos são vistos nessa guerra? Isso mesmo. Nenhum! É no mínimo paradoxal que isso aconteça. No entanto, como em Guerra dos mundos (de Steven Spielberg. E sabe-se lá se o ocorrido foi coincidência ou não), não há nada durante as duas horas e vinte minutos, além da destruição de prédios, que nos diga 'tema por sua vida espectador...'. Como temer e, mais ainda, como embarcar na história se o clima de violência e guerra nunca é instaurado?

Contando a história de uma briga cósmica entre duas facções robóticas que acaba na Terra, Transformers é um delírio para qualquer apreciador de efeitos especiais. Os robôs se movem com uma fluidez incrível e suas transformações em aparelhos/meios de transporte nunca são menos que plausíveis. No entanto, de que vale isso se não contribui para a história? E não sou exatamente alguém que acha que todo filme tem que ter roteiro de filme europeu. Existem N filmes pipoca divertidíssimos e que não ofendem a inteligência do espectador (Constantine [aliás, tem Shia LaBeouf no elenco], Batman begins, Homem-aranha, Homem-aranha II, toda a série X-men e Piratas do Caribe, para ficar apenas nos recentes) com personagens e situações maniqueístas. Em Transformers há todo o tipo de clichê: o soldado valoroso, o poderoso do governo que não sabe o que se passa, a agência secreta, a mocinha inalcançável, o mocinho inseguro... Aliás, o único que se salva é Shia LaBeouf, que consegue dar algo verossímil ao personagem (óbvio que se você for um ávido por corpos maravilhosos, Megan Fox simplesmente será a melhor atriz ever...).

Transformers é o melhor blockbuster lançado até agora? Provavelmente sim, por pura falta de competência dos concorrentes e se blockbuster significar filme de ação desenfreada. Como disse uma amiga, antes de entrar na sala, Transformers é meia hora de filme e duas de batalha final. Se você for uma pessoa que há tempos não vê um show de pirotecnia, vá sem medo de ser feliz. Agora, se exigir um mínimo em construção de personagens e do roteiro, tema por sua felicidade.

Cotação: Transformers - *½

Terça-feira, 24 de Julho de 2007

Dublagem

Depois de ter escrito o comentário de Ratatouille, eu lembrei que não havia citado a dublagem do filme (aqui em Campinas, só foram lançadas cópias dubladas) que é excepcional e não atrapalha em nada o filme. Daí, minha mente ficou vagando até achar a questão: "porque em animações geralmente a dublagem é melhor do que a de filmes 'normais' (parêntesis ignorante: qual é o nome técnico desse 'normais'?)?". Penso que seja porque em animações, uma vez que as expressões são feitas 'genericamente', os movimentos da boca também o são, então qualquer língua se encaixa ali. No entanto, isso não apaga o fato que basta pegar a dublagem de, digamos, Procurando Nemo e a de qualquer Harry Potter e ver que a coisa vai além de um simples encaixe na boca do personagem/ator. Porque cargas d'água os estúdios de dublagem parecem dar maior importância às animações, deixando os filmes 'normais' (...) com uma dublagem que até para ouvidos não profissionais como os meus parecem uma coisa grotesca?


Alguém sabe me responder?

Sábado, 14 de Julho de 2007

Ratatouille

Direção: Brad Bird

Sinceramente, não tinha a menor vontade de ver Ratatouille. Depois de ver Os incríveis no cinema e achar simplesmente que perdia o fôlego no terço final e por ter acabado com minhas expectativas (eu havia visto Procurando Nemo pouco tempo atrás, então esperava algo na mesma linha) e o argumento de Carros não ter me convencido nem um pouco, simplesmente não esperava nada da nova animação da Pixar. O problema é que a pessoa aqui costuma ler muitos comentários acerca das estréias e, como já devem ter percebido, Ratatouille vem conseguindo diversos elogios rasgados. Então decidi ver o filme depois de Harry Potter e a ordem da fênix pensando assim: “se eu não gostar do filme (Ratatouille), pelo menos terei gostado de Harry Potter”. Pois bem. Eu não só me decepcionei imensamente com o filme do bruxo como me deslumbrei com o ratinho.

Contando a história de Remy, um rato do campo que se percebe uma virtuose da culinária (ilustrado numa seqüência que lembra a preparação de um perfume para por Jean Baptiste-Grenouille em Perfume: a história de um assassino). Assim, passa a assaltar a cozinha da senhora em cuja casa vive Remy, sua família e uma colônia inteira de ratos. Nessas incursões na cozinha, Remy passa ver o programa de Auguste Gusteau que diz que “qualquer um pode cozinhar”. Dessa forma, Remy passa a sonhar em se tornar um chef de prestígio. Porém, em uma ocasião na qual estão procurando (Remy e seu irmão Emile) por temperos na cozinha da senhora, essa os descobre e, numa seqüência hilária e extremamente eficiente (aliás, isso é o que não falta ao filme) descobre a colônia em seu sótão. Na fuga da senhora, que a essa altura já se veste praticamente como um arauto da Morte (repare na máscara que a velhinha veste. Não se assemelha a uma caveira?) Remy tenta salvar o livro do chef Gusteau e acaba se perdendo da família. A partir dessa perda, Remy acaba indo aos esgotos de Paris e, sendo aconselhado pelo fantasma de Gusteau, que em diversas vezes se assume como fruto da imaginação do ratinho, descobre estar perto do restaurante do famoso chef. Restaurante esse que, das cinco estrelas que possuía, perdeu duas: uma após a crítica devastadora de Anton Ego, que despreza o lema de Gusteau, e outra após a morte de seu chef. Uma vez na cozinha do restaurante, Remy se esforça em fugir do lugar, mas se depara com Linguini – um jovem ajudante da cozinha – destruindo uma sopa. Não resistindo à tentação, Remy conserta a sopa sob o olhar aparvalhado de Linguini. Depois disso, o atual chef do restaurante, o ambicioso SkinnerRemy e ordena a Linguini que se livre do animal. No entanto, Remy passa a se comunicar (não necessariamente falar) com Linguini e formam uma parceria – Remy ajudaria Linguini a não ser despedido (a tal sopa remendada pelo rato acabou sendo um sucesso e como ninguém o viu preparando-a, Linguini recebe os créditos) e Linguini possibilitaria a Remy realizar os pratos. E tudo isso representa o começo da narrativa. Não que essa parte inicial tenha sido realizada de forma abrupta, apenas para colocar informações demais em um curto espaço de tempo para que o espectador não pense demais sobre o que vê. Pelo contrário, tudo é contado como se tivesse todo o tempo do mundo.

Tecnicamente, Ratatouille é irrepreensível. Desde a Paris vista por Remy, que remete à Paris mostrada em Moulin Rouge, até mesmo os cenários do filme transbordam a eficiência dos animadores que realizaram tudo não para um fim em si mesmo, mas sim para criar os ambientes que auxiliam a narrativa.

Não há no longa nenhum personagem que não seja suficientemente bem construído. Desde o protagonista, que consegue entrar para o rol de bichinhos fofinhos da Disney sem nunca nos deixar esquecer que é um rato – e ratos são nojentos – até mesmo seu pai, que tem um bom motivo para sua desconfiança em relação aos humanos. Os personagens humanos, longe de qualquer realismo na aparência, têm seu realismo salientado no olhar. Veja, por exemplo, o instante em que Colette se prepara para dar um tapa em Linguini. O olhar, a expressão facial, os movimentos. Todos são extremamente reais não por se apropriarem dos movimentos humanos a partir de técnicas como as de Gollum ou dos personagens de O expresso polar, mas são fruto de uma sensibilidade aflorada que dá aos animadores a percepção de que o agir do humano o caracteriza tanto quanto sua aparência.

Além de tudo isso, Ratatouille ainda é uma bênção para as crianças. Suas seqüências de ação são extremamente bem elaboradas e mostram realmente o perigo da situação. E a câmera se movimenta com uma elegância ímpar enquanto Remy trafega pelos cenários. Duas seqüências são emblemáticas: a de Remy nos canos/telhados e na cozinha do Gusteau’s.

Por fim, Ratatouille ainda nos traz uma discussão acerca da crítica e da arte, na figura de Anton Ego. Tudo bem, a transformação desse personagem poderia ser menos maniqueísta (no final do filme, quando prova o Ratatouille de Remy, Anton Ego passa de uma pessoa pálida e cadavérica para uma pessoa bem coradinha...), mas essa mesma transformação nos mostra como a Arte pode mudar as pessoas – não por si só, lógicamente. Nessa hora, Ego finalmente entende que Gusteau, quando dizia que “qualquer um pode cozinhar” não queria dizer efetivamente que qualquer um pode (afinal, Linguini é um desastre na cozinha), mas sim que alguém com o dom de cozinhar (leia-se: um artista) pode surgir em qualquer lugar e sua origem não importa. O que importa mesmo é sua arte.

Não foi bom que eu entrasse no cinema esperando um filme mais ou menos? Aliás, tome isso como observação: nos trailers de Ratatouille, foi mostrado um teaser sobre o novo filme da Pixar, Wall-E, sobre um robozinho que habita uma terra abandonada e que continuamente realiza um serviço que se mostra inútil (sim, isso é mostrado na curta cena) e que passa a questionar o sentido de sua existência. Pois bem, o olhar de Wall-E, ao fitar as estrelas e o espaço, é mais expressivo do que qualquer um dos “personagens” de Harry Potter e a ordem da fênix...

Cotação: Ratatouille - *****

Sexta-feira, 13 de Julho de 2007

Harry Potter e a ordem da fênix

Direção: David Yates

Anticlimático. É essa a característica maior de Harry Potter e a ordem da fênix. De um livro que possuía alguns momentos interessantíssimos (o beijo de Harry e Cho, as lembranças de Snape, a revelação do Ministério da Magia como uma instituição burocrática e manipuladora como qualquer outra, a luta da Armada de Dumbledore contra os Comensais da morte no Departamento de mistérios, o confronto de Dumbledore - finalmente visto em combate - e Voldemort e finalmente, a morte de Sirius) foi feito um filme chocho, sem vida e sem estilo.

Depois da morte de Cedrico Diggory e a "ressurreição" de Lord Voldemort no longa anterior, Harry volta para a casa de seus tios e, sem notícias do mundo bruxo, não sabe que o Ministério da Magia criou uma trama para desacreditá-lo, bem como a Dumbledore, já que assumir a volta de Você-Sabe-Quem seria assumir também a incompetência e ineficiência da instituição. Para tanto, além de manipular a imprensa bruxa, coloca uma funcionária - Dolores Umbridge (Imelda Stauton) - para controlar Hogwarts. Além dos problemas "normais", Harry tem que suportar também as recentes imersões na mente violenta de Voldemort, a partir da conexão entre os dois forjada na noite do quase assassinato do garoto.

O tom sombrio dos dois últimos filmes aqui se traduz simplesmente num filme escuro. Se n'O prisioneiro de Azkaban e O cálice de fogo o céu sempre fechado e a atmosfera sufocante criavam tensão e refletiam a angústia interior de Harry, aqui o diretor optou por transformar o filme simplesmente num filme dark, sem que isso refletisse qualquer coisa.

A história, resumida ali em cima, foi reduzida a algumas passagens que fazem esse episódio soar quase tão ruim quanto A pedra filosofal no que toca a uma trama amarrada. A narrativa salta abruptamente entre diversas partes do livro trazidas para a tela grande para, como acontecia no primeiro capítulo da série, satisfazer a um público exigente para ver um livro filmado e não aceitaria novamente um diretor como Cuarón ou Newell (apesar de o roteiro filmado por este último tenha sido exemplar, o melhor de todos).

Dentre os (poucos) pontos bons da trama, destacam-se a atuação exemplar da Imelda Stauton, cuja tossidinha dificilmente será diferente da imaginada pelos leitores, além do tom político da trama, mostrado logo no início, com um imenso cartaz de Cornélio Fudge (embora, convenhamos, "tom político" é exagerar o que acontece no filme). Também interessante é o Departamento de Mistérios, por mais artificial que possa soar. E a sala de Umbridge se revela também muito fiel à personalidade de sua ocupante. Alguns detalhes também são boas idéias: ilustrar o grande poder mágico de Gina e o afeto crescente entre Hermione e Rony, mas são simplesmente detalhes.

Por outro lado, no filme não há mais personagens; todos se tornaram meras caricaturas, até mesmo Harry, que até aqui havia sido extremamente bem trabalhado. A solidão de Harry, elegantemente mostrada em dois planos sutis d'O prisioneiro de Azkaban (Harry de costas, com o pêndulo da escola atrás de si e depois, Harry na torre do relógio, vendo os amigos irem ao povoado) é substituída por um plano maniqueísta que se mostra uma sombra dos comandados por Cuarón. E se o principal não foi bem trabalhado, que dirá de Sirius Black, que não chega a ter vinte minutos no filme e sai de cena abruptamente numa cena clichezenta e sem emoção.

A luta no Departamento de Mistérios, embora muito bem feita, poderia ter sido realizada com mais luminosidade (em alguns momentos é difícil enxergar o que acontece) e ter sido um pouco mais longa, para salientar a importância desta. O mesmo pode ser dito em relação à luta entre Dumbledore e Voldemort: eficiente, mas tão vazia quanto o resto do filme.

Dessa forma, Harry Potter e a ordem da fênix se revela um filme tão ruim quanto os comandados por Chris Columbus, com o pesar para Yates que esse não deveria ser mais um episódio de apresentação da série para o grande público, mas sim um episódio de desenvolvimento.


Cotação: Harry Potter e a ordem da fênix - **½

Domingo, 8 de Julho de 2007

Direto do Dêvêdê: Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban

Direção: Alfonso Cuarón

Nesses tempos de espera de seqüências é sempre bom rever os capítulos anteriores. E ainda mais quando se trata de uma série como Harry Potter, que às vésperas do último livro ainda tem inúmeros enigmas a serem respondidos. Se reler o livro é, em grande parte do tempo se deliciar com os momentos escritos por J.K. Rowling, rever os filmes tem sua parte de delícia, já que sempre é bom ver os ambientes dos livros, mas também suas partes decepcionantes, uma vez que a série tem se mostrado mais irregular do que deveria.

Nos dois primeiros romances adaptados para o cinema, Chris Columbus fez filmes para agradar aos fãs – em especial no primeiro (por razões óbvias, era necessário estabelecer o universo de Harry Potter) – e acabou deixando de lado a linguagem cinematográfica. Dessa forma, por mais prazeroso que fosse ver os feitiços, as passagens da história, os personagens tomando os rostos, etc, não havia nesses filmes nenhuma marca pessoal, nenhum risco a ser corrido. Chris Columbus filmou da forma mais convencional possível.

em Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban, logo na seqüência inicial, que antecede o letreiro do nome do filme, há uma brincadeira sutil (por mais que ela desagrade fãs e acabe com uma das regras da série...). Ao focar Harry debaixo das cobertas, brincando com sua varinha, Alfonso Cuarón (diretor) já estabelece algumas idéias: por mais que a história seja sobre um mundo de magia, é sobre um garoto num mundo de magia. Logo, esse garoto tem de ter um certo carinho em seu desenvolvimento. Ainda mais, ao fazer Harry se esconder de seu tio com um sorriso no rosto, mostra que esse garoto nada mais é do que um adolescente normal, por mais incomum que possa ser seu mundo.

Aliás, Harry é realmente o foco do filme. Por mais que seja inútil salientar isso, é interessante notar que é um dos únicos personagens desenvolvidos no longa. E sempre por cenas que primam por dar ao espectador uma nota de solidão, como o final da seqüência na qual os alunos vão para Hogsmeade e Harry é deixado para trás ou ainda na aula particular com o Professor Lupin, ao contar qual memória escolheu para conjurar o Patrono. E já que Lupin foi citado, David Thewlis cria um dos personagens mais sensíveis e plausíveis da série até o momento.

Continuando no elenco, Alan Rickman faz o que pode com o Professor Snape, já que o roteiro lhe tira algumas passagens importantes, que certamente lhe dariam maior complexidade (aliás, Snape é um dos melhores personagens do romance, dada sua dubiedade). Michael Gambon cria um Dumbledore que, se não é tão “cansado” quanto o de Richard Harris, é interessante em sua jovialidade. Gary Oldman faz de Sirius um misto de loucura e sensibilidade realmente atraente. E finalmente Timothy Spall mostra que pode crescer nos outros filmes da série (diga-se, só no último, já que n’O cálice de fogo não há como, já que foi feito e as atenções estavam voltadas ao Voldemort de Ralph Fiennes, n’A ordem da fênix ele não aparece e n’O enigma do príncipepouquíssimas passagens com o personagem ).

E, além de todos os pontos positivos citados, há ainda a opção de Cuarón por transformar o mundo de Potter não mais no lugar ensolarado e repleto de aventuras dos dois filmes anteriores (que, diga-se, não possuíam um mínimo de perigo, mesmo na luta de Harry com o basilisco), mas sim num local chuvoso, com um sentimento de urgência crescente. A cena do trem, com a câmera se aproximando enquanto ao redor chove torrencialmente é interessante, já que nos outros episódios o que víamos era um sol esplendoroso. O mesmo pode ser dito do vôo no hipogrifo. Sobrevoando os terrenos de Hogwarts de uma forma extremamente libertária, o céu continua cinzento, com algumas poucas partes de sol, numa metáfora interessante do próprio Harry, cujo passeio no ar nada mais seria que um curto espaço de prazer num mundo cinzento e instável. Ainda em relação ao modo como Cuarón cria os planos e as seqüências, aquelas relativas à viagem no tempo se mostram interessantes, com os planos longínquos que mais tarde se mostram importantes. E, ainda mais, a passagem do tempo nesse episódio é bem mais feliz do que nos anteriores, sempre mostrando as reações do Salgueiro Lutador às estações do ano – e também serve para apresentá-lo melhor ao espectador.

Se por um lado o roteiro nos brinda sempre com pequenos detalhes, no geral peca grosseiramente por deixar de fora aspectos importantíssimos da série, como por exemplo, a relação entre os Marotos e Sirius, Peter, Lupin e o pai de Harry, a relação destes com Snape, o fato de Rabicho dever a vida a Harry. No entanto, por mais que uma parcela considerável da platéia seja composta por pessoas que não leram os livros, uma ainda maior é composta por aqueles que os leram. E essa será radical: ou execra as opções de Cuarón ou as aplaude por trazer uma marca pessoal, um risco e idéias para a série, que se continuasse com Columbus nunca iria ter.

Cotação: Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban - ****